domingo, 23 de outubro de 2011

Como fui parar no Jalapão

     Primeiramente, reconheço que minha ida ao Jalapão contradiz o subtítulo do meu blog. Sim, fui por agência. Mas eu explico: o Parque Estadual do Jalapão é um lugar muito remoto, distante 300 km da capital Palmas. É possível ir por conta própria? Claro que sim. Mas aí você vai ter que alugar um veículo 4x4 (pensou que seu CrossFox dava conta né?), levar combustível, peças para conserto, fora todo equipamento para acampar. GPS? Duvido muito que funcione... Resumindo, contrata os serviços de uma agência pra isso, será muito menos trabalhoso e arriscado, vai por mim.
     Como sempre digo nos meus posts, todo o relato traduz a minha opinião sobre tudo o que aconteceu, baseada nos meus gostos, desgostos, exigências, manias, implicâncias... Logo, jamais se baseie apenas no que eu escrevo. O que foi excelente pra mim, pode ser um lixo pra você - e vice-versa. Estive no Tocantins entre os dias 23 e 29 de setembro de 2011, logo não sei como é a questão clima, chuva, whatever em outras épocas. Dito isso, vamos ao que interessa:
    
     Existem algumas agências que fazem passeios para o Jalapão, que oferecem passeios de dois, três, cinco dias. Decidimos contratar logo aquela que faz o roteiro de maior permanência, afinal não é todo dia que se vai ao Jalapão e, se é pra ir, então que seja serviço completo. Depois de pesquisar, decidimos pela Korubo, pois já tínhamos lido algumas matérias sobre eles em revistas e na internet e também por ser a agência que oferecia o pacote mais completo. Fechamos com eles o pacote de cinco dias, quatro noites (mais duas noites em Palmas), por R$ 2.300,00 por pessoa, divididos em cinco vezes - as três primeiras prestações pagas com depósito em conta e duas últimas com cheques, os quais entregamos à Korubo antes de embarcarmos para o safari. O que esse preço inclui? Praticamente tudo. Transfer aeroporto/Palmas/aeroporto, hospedagem em Palmas, acampamento no Jalapão com pensão completa, todos os passeios, eventuais lanches e água durante os mesmos. À parte apenas cerveja e refrigerante que você consome no acampamento e, claro, gastos com souvenir (lembrando que as passagens aéreas para chegar e sair de Palmas também correm por sua conta). Para facilitar, vou detalhar o roteiro que fizemos:

Dia 01, sexta-feira - Saímos de Manaus (onde começamos nossas férias) num voo que fez conexão em Brasília - acostume-se, não existem voos diretos para Palmas, você obrigatoriamente vai parar em Brasília na ida e na volta - chegando em Palmas por volta do meio-dia. No aeroporto a Korubo já estava nos esperando e ali mesmo já ficamos sabendo qual seria nosso grupo do safari. Sim, diferente de outros lugares, as saídas para o Jalapão são apenas aos sábados (pelo menos pela Korubo), com um grupo fechado, não tem essa de a cada dia chegar um "povo novo". Por isso é muito importante se planejar com antecedência, para comprar as passagens aéreas para os dias e horários certos (ao menos que queira ficar mais tempo em Palmas, o ideal é comprar voos que cheguem na sexta-feira e saiam na quinta-feira seguinte), para poder ter um tempo de descansar antes e depois do safári - acredite, será necessário esse descanso... Do aeroporto, seguimos para a Pousada dos Girassois (unidade 01), bem no centro de Palmas. Feito check-in, o resto do dia foi livre - nós resolvemos dormir, pois tinhamos saído de madrugada de Manaus e o calor na capital do Tocantins é INFERNAL! Sair andar pelas ruas, fora de cogitação... A pousada é boa, o quarto é pequeno mas confortável, com ar-concidionado (item de primeira necessidade), um café da manhã bem variado, piscina e ótima localização. Mencionei que a pousada tá incluída no preço da Korubo, né?
     Minha impressão sobre Palmas? Bem... Além do calor infernal, a cidade não tem grandes atrativos. Por ser uma cidade nova (tem menos de 25 anos), ela ainda está desenvolvendo sua personalidade. Como ela foi construída especialmente para ser a capital do Estado, é toda planejada (assim como Brasília), com traços bem definidos, ruas com 'coordenadas' em vez de nomes, prédios públicos concentrados num mesmo local, uma vegetação rasteira - cerrado - com poucas árvores. A vida noturna também não empolga, com poucas opções, pouco movimento. Eu tive a sorte de ter uma amiga que vive lá e ela me levou jantar num restaurante bem gostoso - Tabu - e também me explicou detalhes da cidade. Mas posso dizer que Palmas ainda não tem um turismo muito explorado, porém parece ter "material" pra isso.

Praça dos Girassois, centro de Palmas. Os girassois? Boa pergunta...
Dia 02, sábado - Depois de tomar café da manhã na pousada, arrumamos a bagagem e, por volta das nove horas, entregamos os cheques das parcelas restantes e embarcamos no caminhão - sim caminhão - rumo ao Jalapão.
Só assim pra se chegar lá
      E aí começa a aventura. As primeiras duas/três horas são em estrada asfaltada em meio ao cerrado brasileiro, parando vez ou outra para apanhar cajus na beira da estrada e para almoçar no muncípio de Ponte Alta do Tocantins, cidade bem pequena, onde os celulares já começam a emitir seus últimos suspiros... Depois do almoço, aí seguimos direto até o acampamento, numa estrada de areia muito ruim, com mais buracos do que qualquer outra que eu tenha percorrido (entende agora porque seu CrossFox não aguenta?), passando por lugares remotos, sem qualquer vestígio de civilização.
Durante um bom tempo, essa é a única paisagem  
     Depois de mais de oito horas - exatamente isso que você leu - chegamos ao acampamento. Porque tanto tempo? Além da estrada extremamente ingrata, o Jalapão fica a 300 km de Palmas, quase na divida com a Bahia, então é chão! Uma vez no acampamento, foi só fazer reconhecimento de terreno, banho, jantar e cama. Era preciso descansar para aguentar os próximos dias.

Dia 03, domingo - Antes, vou descrever o acampamento. No site da Korubo eu já havia visto umas imagens e sabia que não dormiríamos em simples barracas ou tomaríamos banho em chuveiros improvisados. Mas ainda assim, me surpreendi com o lugar! Uma baita estrutura, com camas e banheiro dentro das tendas e chuveiros com água quente! E as refeições? Essa foi sem dúvida e melhor surpresa. Café, almoço e jantar preparados com uma variedade, uma qualidade, impressionantes. Se você ainda está pensando que, por ser acampamento, comemos miojo, ovo cozido e bebemos água de rio, está completamente enganado. Não que fossem pratos exóticos, elaborados, mas era tudo tão bem feito, tão saboroso e numa quantidade até exagerada, que a hora das refeições era a mais aguardada pela turma, haha. Sério, isso eu posso garantir, se alguém for pra lá e disser que a comida é ruim, é porque essa pessoa é uma metida à besta, que não deveria nunca ter saído de SP (sim, porque esse tipo de reclamação é típica de paulista; sou paulista, sei do que estou falando). Aliás, você já assistiu ao vídeo que fiz lá? Tem um post logo abaixo. Tem imagens do acampamento, de dentro das tendas - menos das comidas; estava tão ocupado comendo que me esqueci de fotografar... ;)
     Após o café, seguimos para o nosso primeiro passeio: descer parte do Rio Novo de caiaque. O rio passa em frente ao acampamento, tem água limpíssimas e uma correnteza não muito forte, o que torna o passeio próprio para qualquer pessoa. Dois guias acompanham o grupo rio abaixo, para eventual auxílio - eu mesmo tombei meu caiaque logo na primeira parada - mas é tudo muito tranquilo, dá pra curtir numa boa, sem sustos. Mesmos nas partes onde existem mais pedras, passamos numa boa - pode ser que na época de cheia fique mais complicado, não sei. Essa descida durou umas duas horas, acredito eu. No fim, lá estava o caminhão da Korubo para nos trazer de volta ao acampamento. 
     Aliás, há que de destacar o profissionalismo dos caras. Num dos passeios, o eixo do caminhão quebrou (não falei que a estrada era difícil?), mas como havia um funcionário da Korubo nos acompanhando numa caminhonete, o passeio seguiu - e logo depois outro caminhão surgiu substituindo o anterior; num outro dia, o "cooler" em que eles levam água tombou e ficou vazio, mas não demorou muito e eles logo trouxeram outro. Muitas vezes as pessoas só enxergam o preço das coisas e reclamam que é tudo caro. O que elas não levam em conta é o trabalho que esse tipo de coisa dá; se fossem eles a oferecer esse serviço, cobrariam menos? Duvido...
     Depois do caiaque, almoçamos e ficamos um tempo de boa tomando banho de rio, até sairmos para ver o pôr-do-sol na duna. E lá se foram mais algumas horas na estrada até as proximidades da Serra do Espírito Santo, onde fica a duna - foi nesse dia que o caminhão quebrou. O visual no lugar é incrível! A duna tem uma tonalidade avermelhada que, com a luz do sol sobre ela, fica parecendo algo de outro planeta! E ao contrário do que possa parecer, subir até o topo da duna não é difícil não, e o visual...

Dia 04, segunda-feira - Saímos às oito da manhã do acampamento e, duas horas depois, chegamos à Cachoeira do Formiga. Olha... Pra mim foi o melhor lugar que visitei no Jalapão. Juro. Eu sou doido por água; quando ela é cristalina, tem uma temperatura perfeita, vem de uma cachoeira mas a correnteza não te leva embora, aí que fico doido! Nem vou ficar tecendo mais e mais elogios ao lugar, mas posso dizer que não existe criatura nesse mundo que seja capaz de dizer que não gostou de lá - e se disser é porque tá querendo ser do contra.

     Com muito resistência, deixamos a cachoeira para trás e seguimos rumo ao Fervedouro da Glorinha. Como descrever esse lugar? Um lago, onde você caminha até certo ponto quando, de repente, o chão 'some' e você fica flutuando! Pois é, apesar de não tocar o chão, você também não afunda, mesmo que se esforce para tanto. É muito curioso. Porém, um pequeno problema: a quantidade ABSURDA de mosquitos e afins que ficam sobrevoando ao redor da sua cabeça. Sério, chega a ser irritante, mas a beleza do local e a experiência justificam estar ali. Depois, seguimos para um outro fervedouro, esse com bem menos insetos nas nossas cabeças, mas a parada foi rápida pois iríamos almoçar em seguida. Seguimos, então, até Mateiros para conhecer - e comprar - o artesanato feito com o capim dourado; cidadezinha minúscula com uma praça, uma escola e uma sorveteria. Pelo menos o sorvete estava gostoso.

Dia 05, terça-feira -Saímos às cinco e meia da manhã do acampamento, depois de um café rápido, a fim de seguirmos para a trilha da Serra do Espírito Santo. Eu imaginei que iríamos ver o sol nascer do alto da serra, mas não; levantar tão cedo é necessário para não pegar o sol muito forte durante a subida da serra. Pelo menos foi possível acompanhar o sol nascendo durante o trajeto que, mais uma vez, foi longo... O passeio consiste em subir até o topo da serra, caminhando por uma trilha em zigue-zague, por um quilômetro, caminhar mais três quilômetros até o mirante da serra e, claro, voltar tudo isso depois. Eu imaginei que seria mais difícil e muito mais cansativo, já que sou sedentário confesso e havia acordado há poucas horas. Mas me surpreendi. Não se foi a empolgação com o visual, mas foi tudo tão tranquilo que caminharia outros tanto quilômetros de preciso fosse. Enfim... Uma vez no topo da serra, é possível ter uma visão privilegiada de toda a extesão do parque! É muito lindo mesmo, uma experiência visual e sensorial bastante válida. Talvez, quem já tenha escalado outros pontos do mundo não se impressione tanto, mas como foi minha primeira vez nesse tipo de situação, gostei demais.
Desce! 
     Depois da trilha, retornamos ao acampamento para o almoço e tivemos a tarde toda livre. Uns ficaram no rio, outros aproveitaram o redário para dormir... Existe uma trilha curta dentro do acampamento que termina próximo a umas corredeiras; fomos até lá e descemos apenas com a correnteza de volta ao acampamento. Coisa simples, leve, só pra distrair mesmo.

Dia 06, quarta-feira - Deixamos o acampamento às oito e meia da manhã - já com toda a bagagem - rumo a Palmas. No caminho, paramos para visitar a cachoeira da Velha e tomar banho na prainha do Rio Novo. A cachoeira impressiona. No meio de todo aquele cerrado, onde só sevê vegetação rasteira e poucas árvores, eis que ela surge; esse contraste de paisagens é um dos pontos fortes do Jalapão. Onde você acha que só tem poeira e mato, de repente aparece uma cachoeira, um rio enorme, uma arara azul belíssima... A cachoeira é apenas para contemplação mesmo, pois são muitas quedas e entrar na água seria pedir para sofrer um belo de um acidente. Pouco tempo depois, de caminhão, chegamos na prainha. Aqui sim um lugar perfeito pra banho, com águas calmas, cristalinas e naquela temperatura... 
Prainha
     Mas a parada não dura muito, logo fazemos um lanche e voltamos pra estrada. Aí, aquela odisseia de novo, mais buracos, mais solavancos... Chegamos em Palmas no começo da noite. Só restou mesmo um banho, jantar e dormir, porque o Jalapão é bom, mas cansa...

Dia 07, quarta-feira - Como nosso voo saía de Palmas apenas depois do almoço, aproveitamos a parte da manhã para dar uma volta pela Praça dos Girassois e fotografar o lugar e também aproveitar a temperatura mas baixa, porque seria difícil ficar andando pra lá e pra cá com uns 40 graus na cabeça. Ah sim, essa última noite também foi na Pousada dos Girassois e a Korubo nos levou de volta ao aeroporto.

     Enfim, acho que é isso. Valeu a pena? Sem sombra de dúvida! Só não digo que faria de novo pois, como já disse no meu vídeo (o qual eu espero que você veja, se ainda não viu), quando tiver tempo e dinheiro disponíveis, irei pra um lugar novo e não de volta pra lá. Mas àqueles que estão pensando em ir eu digo: vão! 
     Se você gosta desse tipo de viagem, no meio do nada, sem qualquer contato com o mundo, apenas curtindo paisagens, usufruindo da natureza e, de quebra, quer aprender um pouco sobre a história do Tocantins, vai gostar. Agora, se você é daqueles que tem "nojinho" de tudo, não quer suar, se sujar todo de poeira, caminhar muito, não suporta insetos, não vive sem chapinha... faça um favor a você mesmo/a e aos demais viajantes, fique em casa, ok? Pois se tem uma coisa da qual o Jalapão não precisa é de gente fresca.
     Falo mesmo!

     Se alguém quiser mais informações, ficarei mais do que satisfeito em ajudar. E, por favor, comentários, sugestões, críticas também são bem-vindas - menos se for pra reclamar da chapinha.